Santo Rosário

 «    Apresentação    » 

A recitação do Santo Rosário, com a consideração dos mistérios, a repetição do Pai-Nosso e da Ave-Maria, os louvores à Beatíssima Trindade e a constante invocação à Mãe de Deus, é um contínuo ato de fé, de esperança e de amor, de adoração e reparação.
Roma, 9 de janeiro de 1973

Estas linhas não se escrevem para mulherzinhas. Escrevem-se para homens bem barbados e bem... homens, que alguma vez, sem dúvida, elevaram o seu coração a Deus, gritando-Lhe com o Salmista: Notam fac mihi viam, in qua ambulem; quia ad te levavi animam meam. - Dá-me a conhecer o caminho que devo seguir, pois a Ti elevei a minha alma (Sl 142, 8).
Hei de contar a esses homens um segredo que muito bem pode ser o começo desse caminho por onde Cristo quer que andem.
Meu amigo: se tens desejos de ser grande, faz-te pequeno.
Para ser pequeno, é preciso crer como crêem as crianças, amar como amam as crianças, abandonar-se como se abandonam as crianças..., rezar como rezam as crianças.
E tudo isso junto é necessário para pôr em prática o que te vou descobrir nestas linhas:
O princípio do caminho, que tem por fim a completa loucura por Jesus, é um confiado amor a Maria Santíssima.
- Queres amar a Virgem? - Pois então conversa com Ela! - Como? - Rezando bem o Rosário de Nossa Senhora.
- Mas no Rosário... dizemos sempre o mesmo! - Sempre o mesmo? E não dizem sempre a mesma coisa os que se amam?... Se há monotonia no teu Rosário, não será porque, em vez de pronunciares palavras como homem, emites sons como animal, enquanto o teu pensamento anda muito longe de Deus? - Além disso, repara: antes de cada dezena, indica-se o mistério que se vai contemplar. Tu... já alguma vez contemplaste estes mistérios?
Faz-te pequeno. Vem comigo e - este é o nervo da minha confidência - viveremos a vida de Jesus, Maria e José.
Todos os dias Lhes havemos de prestar um novo serviço. Ouviremos as suas conversas de família. Veremos crescer o Messias. Admiraremos os seus trinta anos de obscuridade... Assistiremos à sua Paixão e Morte... Pasmaremos ante a glória da sua Ressurreição... Numa palavra: contemplaremos, loucos de Amor - não há outro amor além do Amor -, todos e cada um dos instantes de Cristo Jesus.

 «    Mistérios Gozosos    » 

I – Anunciação

Não te esqueças, meu amigo, de que somos crianças. A Senhora do doce nome, Maria, está recolhida em oração.
Tu és, naquela casa, o que quiseres ser: um amigo, um criado, um curioso, um vizinho... – Eu por agora não me atrevo a ser nada. Escondo-me atrás de ti e, pasmado, contemplo a cena.
O Arcanjo comunica a sua mensagem... – Quomodo fiet istud, quoniam virum non cognosco? – Como se fará isso, se não conheço varão? (Lc 1, 34).
A voz da nossa Mãe traz à minha memória, por contraste, todas as impurezas dos homens..., as minhas também.
E como odeio então essas baixas misérias da terra!... Que propósitos!
Fiat mihi secundum verbum tuum. – Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38). Ao encanto destas palavras virginais, o Verbo se fez carne.
Vai terminar a primeira dezena... Ainda tenho tempo de dizer ao meu Deus, antes que nenhum mortal: Jesus, eu Te amo.

II – Visitação de Nossa Senhora

Agora, meu pequeno amigo, espero que já saibas mexer-te. – Acompanha alegremente José e Santa Maria... e escutarás tradições da Casa de Davi.
Ouvirás falar de Isabel e de Zacarias, enternecer-te-ás com o amor puríssimo de José, e baterá fortemente o teu coração cada vez que pronunciarem o nome do Menino que nascerá em Belém...
Caminhamos apressadamente em direção às montanhas, até uma aldeia da tribo de Judá (Lc 1, 39).
Chegamos. – É a casa onde vai nascer João Batista. – Isabel aclama, agradecida, a Mãe do seu Redentor: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! A que devo tamanho bem, que venha visitar-me a Mãe do meu Senhor? (Lc 1, 42-43).
O Batista, ainda por nascer, estremece... (Lc 1, 41). – A humildade de Maria derrama-se no Magnificat... – E tu e eu, que somos – que éramos – uns soberbos, prometemos ser humildes.

III – Nascimento de Jesus

Foi promulgado um edito de César Augusto, que manda recensear toda a gente. Para isso, cada qual tem de ir à terra dos seus antepassados. – Como José é da casa e da família de Davi, vai, com a Virgem Maria, de Nazaré à cidade chamada Belém, na Judéia (Lc 2, 1-5).
E em Belém nasce o nosso Deus: Jesus Cristo! – Não há lugar na pousada: num estábulo. – E sua Mãe envolve-O em panos e reclina-O no presépio (Lc 2, 7).
Frio. – Pobreza. – Sou um escravozinho de José. – Que bom é José! – Trata-me como um pai a seu filho. – Até me perdoa, se tomo o Menino em meus braços e fico, horas e horas dizendo-lhe coisas doces e ardentes!...
E beijo-O – beija-O tu –, e O embalo, e canto para Ele, e Lhe chamo Rei, Amor, meu Deus, meu Único, meu Tudo!... Que lindo é o Menino... e que curta a dezena!

IV – Purificação da Virgem

Completado o tempo da purificação da Mãe, segundo a Lei de Moisés, é preciso ir com o Menino a Jerusalém para apresentá-Lo ao Senhor (Lc 2, 22).
E desta vez serás tu, meu amigo, quem leve a gaiola das rolas. – Estás vendo? Ela – a Imaculada! – submete-se à Lei como se estivesse imunda.
Aprenderás com este exemplo, menino bobo, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os sacrifícios pessoais?
Purificação! Tu e eu, sim, é que precisamos de purificação! Expiação, e, acima da expiação, o Amor. – Um amor que seja cautério, que abrase a imundície da nossa alma, e fogo que incendeie com chamas divinas a miséria do nosso coração.
Um homem justo e temente a Deus, que, conduzido pelo Espírito Santo, viera ao templo – tinha-lhe sido revelado que não morreria antes de ver o Cristo –, toma o Messias em seus braços e diz-Lhe: Agora, Senhor, agora já podes levar em paz deste mundo o teu servo, conforme a tua promessa..., porque meus olhos viram o Salvador (Lc 2, 25-30).

V – O Menino perdido

Onde está Jesus? – Senhora: o Menino!... Onde está?
Maria chora. – Bem que corremos, tu e eu, de grupo em grupo, de caravana em caravana: não O viram. – José, depois de fazer esforços inúteis para não chorar, chora também... E tu... E eu.
Eu, como sou um criadinho tosco, choro sem parar e clamo ao céu e à terra..., pelas vezes em que O perdi por minha culpa e não clamei.
Jesus! Que eu nunca mais Te perca... E então a desgraça e a dor nos unem, como nos uniu o pecado, e saem de todo o nosso ser gemidos de profunda contrição e frases ardentes, que a pena não pode, não deve registrar.
E ao nos consolarmos com a alegria de encontrar Jesus – três dias de ausência! – disputando com os Mestres de Israel (Lc 2, 46), ficará bem gravada na tua alma e na minha a obrigação de deixarmos os de nossa casa para servir o Pai Celestial.

 «    Mistérios Dolorosos    » 

I – Oração no horto

Orai, para não entrardes em tentação. – E Pedro adormeceu. – E os demais apóstolos. – E adormeceste tu, meu pequeno amigo..., e eu fui também outro Pedro dorminhoco.
Jesus, só e triste, sofria e empapava a terra com o seu sangue.
De joelhos sobre a terra dura, persevera em oração... Chora por ti... e por mim: esmaga-O o peso dos pecados dos homens.
Pater, si vis, transfer calicem istum ad me. – Pai, se quiseres, faz com que se afaste de Mim este cálice... Não se faça, porém, a minha vontade, sed tua fiat, mas a tua (Lc 22, 46).
Um Anjo do céu O conforta. – Jesus está em agonia. – Continua prolixius, orando mais intensamente... Aproxima-se de nós, que dormimos: levantai-vos, orai – repete-nos –, para não cairdes em tentação (Lc 22, 46).
Judas, o traidor: um beijo. – A espada de Pedro brilha na noite. – Jesus fala: vindes buscar-Me como a um ladrão? (Mc 14, 48).
Somos covardes: seguimo-Lo de longe. Mas acordados e orando. – Oração... Oração...

II – Flagelação do Senhor

Fala Pilatos: Tendes o costume de que vos solte alguém pela Páscoa. Quem havemos de pôr em liberdade? Barrabás – ladrão, preso com outros por homicídio – ou Jesus? (Mt 27, 17). – Manda matar este e solta Barrabás, clama o povo incitado por seus príncipes (Lc 23, 18).
Pilatos fala de novo: Então que farei de Jesus, que se chama o Cristo? (Mt 27, 22). – Crucifige eum! – Crucifica-o! (Mc 15, 14).
Diz-lhes Pilatos, pela terceira vez: Mas que mal fez Ele? Não encontro nEle causa alguma de morte (Lc 23, 22).
Aumentava o clamor da multidão: Crucifica-o, crucifica-o! (Mc 15, 14).
E Pilatos, desejando contentar o povo, solta-lhes Barrabás e manda açoitar Jesus.
Atado à coluna. Cheio de chagas.
Ouvem-se os golpes dos azorragues na sua carne rasgada, na sua carne sem mancha, que padece pela tua carne pecadora. – Mais golpes. Mais sanha. Mais ainda... É o cúmulo da crueldade humana.
Por fim, rendidos, desprendem Jesus. E o corpo de Cristo rende-se também à dor e cai, como um verme, truncado e meio morto.
Tu e eu não podemos falar. – Não são precisas palavras. Olha para Ele, olha para Ele... devagar.
Depois... serás capaz de ter medo à expiação?

III – Coroação de espinhos

Vai ficando satisfeita a ânsia de sofrer do nosso Rei!
– Levam o meu Senhor ao pátio do pretório, e ali convocam toda a coorte (Mc 15, 16). – A soldadesca brutal desnudou a sua carne puríssima. – Com um farrapo de púrpura, velho e sujo, cobrem Jesus. – Por cetro, uma cana na mão direita...
A coroa de espinhos, cravada a marteladas, faz dEle um Rei de comédia... Ave Rex iudaeorum! – Salve, Rei dos judeus (Mc 15, 18). E, à força de pancadas, ferem-Lhe a cabeça. E esbofeteiam-nO... e cospem nEle.
Coroado de espinhos e vestido com andrajos de púrpura, Jesus é mostrado ao povo judeu: Ecce homo! Aí tendes o homem. E de novo os pontífices e seus ministro rompem aos gritos, clamando: – Crucifica-o, crucifica-o! (Jo 19, 5-6).
– Tu e eu não teremos voltado a coroá-Lo de espinhos, a esbofeteá-Lo e a cuspir-Lhe?
Nunca mais, Jesus, nunca mais... E um propósito firme e concreto põe fim a estas dez Ave-Marias.

IV – A Cruz às costas

Com a sua Cruz às costas, caminha para o Calvário, lugar que em hebraico é chamado Gólgota (Jo 19, 17). E lançam mão de um tal Simão, natural de Cirene, que volta de uma granja, e o carregam com a Cruz, para que a leve atrás de Jesus (Lc 23, 26).
Cumpriu-se o que Isaías tinha dito (Is 53, 12): cum sceleratis reputatus est, foi contado entre os malfeitores – porque levaram, para fazê-los morrer com Ele, outros dois homens, que eram ladrões (Lc 23, 32).
Se alguém quiser vir após Mim... Menino amigo: estamos tristes, vivendo a Paixão de Jesus, Nosso Senhor. – Olha com que amor se abraça à Cruz. – Aprende com Ele. – Jesus leva a Cruz por ti; tu... leva-a por Jesus.
Mas não leves a Cruz de rastos... Leva-a erguida a prumo, porque a tua Cruz, levada assim, não será uma Cruz qualquer: será... a Santa Cruz. Não te resignes com a Cruz. Resignação é palavra pouco generosa. Quer a Cruz. Quando de verdade a quiseres, a tua Cruz será... uma Cruz sem Cruz.
E, com toda a certeza, tal como Ele, encontrarás Maria no caminho.

V – Morte de Jesus

Jesus Nazareno, Rei dos judeus, já tem preparado o trono triunfador. Tu e eu não O vemos contorcer-se, ao ser pregado; sofrendo tudo quanto se pode sofrer, estende os braços com gesto de Sacerdote Eterno.
Os soldados tomam as santas vestes e fazem quatro partes. – Para não dividirem a túnica, sorteiam-na para ver a quem tocará. – E assim, uma vez mais, se cumpre a Escritura que diz: repartiram entre si as minhas vestes e sobre elas lançaram sortes (Jo 19, 23-24).
Já está no alto... – E, junto de seu Filho, ao pé da Cruz, Santa Maria... e Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. E João, o discípulo que Ele amava. Ecce mater tua! – Aí tens a tua Mãe! Dá-nos a sua Mãe por Mãe nossa.
Tinham-Lhe oferecido antes vinho misturado com fel, mas, tendo-o provado, não o bebeu (Mt 27, 34).
Agora tem sede... de amor, de almas.
Consummatum est. – Tudo está consumado (Jo 19, 30).
Menino bobo, olha: tudo isto..., tudo, sofreu por ti... e por mim. – Não choras?

 «    Mistérios Gloriosos    » 

I – Ressurreição do Senhor

Ao cair da tarde de Sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para irem embalsamar o corpo morto de Jesus. – No outro dia, de manhã cedo, chegam ao sepulcro, nascido já o sol (Mc 16, 1-2). E entrando, ficam consternadas, porque não encontram o corpo do Senhor. – Um jovem, coberto de vestes brancas, diz-lhes: Não temais; sei que procurais Jesus nazareno. Non est hic, surrexit enim sicut dixit – não está aqui porque ressuscitou, como tinha anunciado (Mt 28, 5).
Ressuscitou! – Jesus ressuscitou. Não está no sepulcro. A Vida pôde mais do que a morte.
Apareceu a sua Mãe Santíssima. – Apareceu a Maria de Magdala, que está louca de amor. – E a Pedro e aos demais Apóstolos. – E a ti e a mim, que somos seus discípulos e mais loucos que Madalena. Que coisas Lhe dissemos!
Que nunca morramos pelo pecado; que seja eterna a nossa ressurreição espiritual. – E, antes de terminar a dezena, beijaste as chagas dos seus pés..., e eu, mais atrevido – por ser mais criança –, pus os meus lábios no seu lado aberto.

II – A Ascensão do Senhor

O Mestre ensina agora os seus discípulos: abriu-lhes a inteligência, para que compreendam as Escrituras, e toma-os por testemunhas da sua vida e dos seus milagres, da sua paixão e morte, e da glória da sua ressurreição (Lc 24, 45-48).
Depois, leva-os a caminho de Betânia, ergue as mãos e abençoa-os. – E, entretanto, vai-se afastando deles e eleva-se no céu (Lc 24, 50), até que uma nuvem O ocultou (At 1, 9).
Jesus foi para o Pai. – Dois Anjos de brancas vestes se aproximam de nós e nos dizem: Homens da Galiléia, que fazeis olhando para o céu? (at 1, 11).
Pedro e os restantes voltam para Jerusalém – cum gaudio magno – com grande alegria (Lc 24, 52). – É justo que a Santa Humanidade de Cristo receba a homenagem, a aclamação e a adoração de todas as hierarquias dos Anjos e de todas as legiões dos bem-aventurados da Glória.
Mas tu e eu nos sentimos órfãos; estamos tristes, e vamos consolar-nos com Maria.

III – Pentecostes

O Senhor tinha dito: Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paráclito, outro Consolador, para que permaneça convosco eternamente (Jo 14, 16).
Reunidos os discípulos todos juntos num mesmo lugar, de repente sobreveio do céu um ruído como que de vento impetuoso, que invadiu toda a casa em que se encontravam. – Ao mesmo tempo, umas línguas de fogo se repartiram e pousaram sobre cada um deles (At 2, 1-3).
Cheios do Espírito Santo, os Apóstolos estavam como bêbados (At 2, 13).
E Pedro, rodeado pelos outros onze, levantou a voz e falou. – Ouvimo-lo pessoas de cem países. – Cada um o escuta na sua língua. – Tu e eu na nossa. – Fala-nos de Cristo Jesus e do Espírito Santo e do Pai.
Não o apedrejam nem o metem na cadeia; convertem-se e são batizados três mil dos que o ouviram.
Tu e eu, depois de ajudarmos os Apóstolos a administrar os batismos, louvamos a Deus Pai, por seu Filho Jesus, e nos sentimos também ébrios do Espírito Santo.

IV – Assunção da Virgem

Assumpta est Maria in coelum: gaudent angeli! – Maria foi levada por Deus, em corpo e alma para o céu. E os Anjos se alegram!
Assim canta a Igreja. – E assim, com esse clamor de regozijo, começamos nós a contemplação nesta dezena do Santo Rosário.
Adormeceu a Mãe de Deus. – Em volta do seu leito encontram-se os doze Apóstolos. – Matias substituiu Judas.
E nós, por graça que todos respeitam, estamos a seu lado também.
Mas Jesus quer ter a sua Mãe, em corpo e alma, na Glória. – E a Corte celestial mobiliza todo o seu esplendor para homenagear a Senhora. – Tu e eu – crianças, afinal – pegamos a cauda do esplêndido manto azul da Virgem, e assim podemos contemplar aquela maravilha.
A Trindade Beatíssima recebe e cumula de honras a Filha, Mãe e Esposa de Deus... – E é tanta a majestade da Senhora, que os Anjos perguntam: Quem é esta?

V – Coroação da Virgem

És toda formosa, e não há mancha em ti. – És horto cerrado, minha irmã, Esposa, horto cerrado, fonte selada. – Veni: coronaberis. – Vem, serás coroada (Cant. 4, 7.12.8).
Se tu e eu tivéssemos tido poder, tê-la-íamos feito também Rainha e Senhora de toda a criação.
Um grande sinal apareceu no céu: uma mulher com uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. – O vestido, de sol. – A lua a seus pés (Apoc. 12, 1). Maria, Virgem sem mancha, reparou a queda de Eva; e esmagou com seu pé imaculado a cabeça do dragão infernal. Filha de Deus, Mãe de Deus, Esposa de Deus.
O Pai, o Filho e o Espírito Santo coroam-na como Imperatriz que é do Universo.
E rendem-lhe preito de vassalagem os Anjos..., e os patriarcas e os profetas e os Apóstolos..., e os mártires e os confessores e as virgens e todos os santos..., e todos os pecadores, e tu e eu.

 «    Mistérios Luminosos    » 

Na sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, o Santo Padre João Paulo II indicou que, pelo carácter cristológico desta devoção mariana, se acrescentassem cinco novos mistérios, a que chamou «mistérios de luz», aos quinze mistérios tradicionais
No livro Santo Rosário, redigido em 1931, não figuram comentários a estes mistérios; mas S. Josemaría, contemplara-os e pregara sobre eles com amor, ao longo de toda a sua vida, como fizera aliás, com todas as passagens do Evangelho. Para facilitar aos leitores a meditação completa do Santo Rosário, recolheram-se alguns textos, das obras do Fundador do Opus Dei, entre muitos outros possíveis, e reuniram-se neste apêndice.
Unindo-nos às intenções do Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, sempre que rezarmos os mistérios de alegria, de luz, de dor e de glória, seguiremos plenamente o espírito do autor de Santo Rosário: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!

I – O batismo do Senhor no Jordão

Então foi Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. E eis uma voz do Céu, que dizia: Este é o meu Filho, o amado, no qual pus as minhas complacências (Mt 3, 13.17).
No Batismo o Nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.
A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra.
Faremos arder o mundo nas chamas do fogo que vieste trazer à terra!…E a luz da Tua verdade, ó nosso Jesus, iluminará as inteligências por dia sem fim!
Ouço-Te clamar, ó meu Rei, com a forte voz, que vibra: ignem veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur? – E respondo, com todo o meu ser, com os meus sentidos e as minhas potências: ecce ego: quia vocasti me!
Nosso Senhor pôs-te na alma um selo indelével, por meio do Batismo: és filho de Deus.
Criança, não ardes em desejos de fazer com que todos O amem?
Fontes: Cristo que passa, n. 128. Apontamentos íntimos n. 1741. Forja nn. 264, 300.

II – A Auto-revelação de Cristo nas bodas de Caná

Entre tantos convidados de uma ruidosa boda rural a que vêm pessoas de muitos lugares, Maria dá pela falta de vinho. Repara nisso imediatamente – e só Ela. Que familiares se nos apresentam as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com o humano – com o normal e corrente. Realmente, é próprio de uma mulher, de uma atenta dona de casa, reparar num descuido, estar presente nesses pequenos pormenores que tornam agradável a existência humana; e assim aconteceu com Maria.
– Fazei o que Ele vos disser (Jo 2, 5).
Implete hydrias (Jo 2, 7), – enchei as vasilhas! –, e dá-se o milagre. Assim mesmo, com toda a simplicidade. Tudo normal: eles cumpriam o seu ofício, e a água estava ao seu alcance… E foi esta a primeira manifestação da divindade do Senhor! O que há de mais vulgar converte-se em extraordinário, em sobrenatural, quando temos a boa vontade de fazer o que Deus nos pede.
Quero, Senhor, abandonar todos os meus cuidados nas Tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a Tua Mãe! – a estas horas, como em Caná, já fez soar aos Teus ouvidos: não têm!…
Se a nossa fé é débil, recorramos a Maria. Devido ao milagre das bodas de Caná que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, acreditaram n´Ele os discípulos (Jo 2, 11). A nossa Mãe intercede sempre diante de seu Filho para que nos atenda e se nos mostre de tal modo que possamos confessar: – Tu és o Filho de Deus.
– Dá-me, ó Jesus, essa fé que de verdade desejo! Minha Mãe e Senhora minha, Maria Santíssima, faz com que eu creia!
Fontes: Cristo que passa, n. 141. Carta, 14-IX-1951, n. 23. Forja, n. 807. Amigos de Deus, n. 285. Forja, n. 235.

III – O anúncio do Reino de Deus, convidando à conversão

– Está completo o tempo, e aproxima-se o Reino de Deus; fazei penitência, e crede no Evangelho (Mc 1, 15).
– E vinha a Ele todo o povo, e ensinava-o (Mc 2, 13).
Jesus vê aquelas barcas na margem, e sobe para uma delas. Com que naturalidade se mete Jesus na barca de cada um de nós!
Quando te aproximares do Senhor, lembra-te de que Ele está sempre muito perto de ti, dentro de ti: Regnum Dei intra vos est (Lc 17, 21). No teu coração O encontrarás.
Cristo deve reinar, em primeiro lugar, na nossa alma. Para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é que o mais imperceptível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar menos intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar se traduzirão num hossana ao meu Cristo Rei.
Duc in altum – Ao largo! – Repele o pessimismo que te torna cobarde. Et laxate retia vestra in capturam – e lança as redes para pescar.
Devemos, confiar nessas palavras do Senhor: meter-se na barca, pegar nos remos, içar as velas e lançar-nos a esse mar do mundo que Cristo nos deixa em herança.
Et regni ejus non erit finis. – O Seu Reino não terá fim!
Não te dá alegria trabalhar por um reinado assim?
Fontes: Apontamentos da pregação oral, 19-III-1960; 1-I-1973. Cristo que passa, n.181. Caminho, n. 792. Cristo que passa, n.159. Caminho, n. 906.

IV – A Transfiguração do Senhor

E transfigurou-Se diante deles. E o Seu rosto ficou refulgente como o Sol, e as Suas vestes tornaram-se brancas como a neve (Mt 17, 2).
Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te; abismado na imensidade da Tua formosura, e nunca, mais deixar de Te contemplar! Ó Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te visse, para ficar ferido de amor por Ti!
E eis que da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho dilecto em quem pus toda a minha complacência: ouvi-O (Mt 17, 5).
Senhor nosso, aqui nos tens, dispostos a escutar tudo o que nos quiseres dizer. Fala-nos; estamos atentos à Tua voz. Que as Tuas palavras, caindo na nossa alma, inflamem a nossa vontade, para que se lance fervorosamente a obedecer-Te!
Vultum tuum, Domine, requiram (S 26,8) – buscarei, Senhor, o Teu rosto. Encanta-me cerrar os olhos, e considerar que chegará o momento – quando Deus quiser – em que poderei vê-lo, não como num espelho, e sob imagens obscuras…, mas face a face (1 Cor 13, 12). Sim, o meu coração está sedento do Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus? (S 41, 3).
Fontes: Apontamentos da pregação oral, 4-VI-1937; 15-VII-1937; 25-XII-1973.

V – A instituição da Santíssima Eucaristia

Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13, 1).
Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição.
Jesus ficou na Eucaristia por amor…, por ti.
Ficou, sabendo como o receberiam os homens… e como o recebes tu.
Ficou, para que O comas, para que O visites e Lhe contes as tuas coisas e, falando intimamente com Ele na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te apaixones cada dia mais e faças com que outras almas – muitas! – sigam o mesmo caminho.
– Menino bom: como beijam as flores, as cartas, as recordações de quem amam, os enamorados da terra!…
– E tu? Poderás esquecer-te alguma vez de que O tens sempre a teu lado… a Ele!? Esqueces-te… de que O podes comer?
– Senhor, que eu não volte a voar pegado à terra, que esteja sempre iluminado pelos raios do Teu divino Sol – Cristo – na Eucaristia, que o meu voo não se interrompa até encontrar o descanso do Teu Coração!
Fontes: Cristo que passa, n. 155. Forja, nn. 887, 305, 39..

 «    Ladainha    » 

Irrompe agora a ladainha lauretana, sempre com esplendor de luz nova e cor e sentido diferentes.
Clamores ao Senhor, a Cristo; súplicas a cada uma das Pessoas divinas e à Santíssima Trindade; galanteios inflamados a Santa Maria: Mãe de Cristo, Mãe Imaculada, Mãe do Bom Conselho, Mãe do Criador, Mãe do Salvador..., Virgem prudentíssima..., Sede da Sabedoria, Rosa mística, Torre de Davi, Arca da Aliança, Estrela da manhã... Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos...
E o reconhecimento do seu reinado: Regina! – Rainha! –, e o da sua mediação: Sub tuum praesidium confugimus, à vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus..., livrai-nos de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita.
Rogai por nós, Rainha do Santíssimo Rosário, para que sejamos dignos de alcançar as promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meu amigo: eu te descobri uma ponta do meu segredo. Cabe a ti, com a ajuda de Deus, descobrir o resto. Anima-te. Sê fiel.
Faz-te pequeno. O Senhor esconde-se dos soberbos e manifesta os tesouros da sua graça aos humildes.
Não tenhas receio se, ao meditares por tua conta, te escapam afetos e palavras audazes e pueris. Jesus quer isso mesmo. Maria te anima. Se rezares assim o Rosário, aprenderás a fazer boa oração.